Uma boa pergunta

Por Augusto Gaspar
Em um processo de desenvolvimento humano, uma boa pergunta pode valer mais do que mil respostas. Um dos mais conhecidos autores sobre coaching, John Whitmore – ex-automobilista, psicoterapeuta e especializado em psicologia do esporte –, exemplifica bem este ponto ao relatar casos de esportistas que desenvolveram muito mais a sua percepção e, consequentemente, seu desempenho ao ser estimulados a responder às perguntas certas do que ao ser simplesmente orientados a fazer algo. 

Por exemplo, em vez de dizer: “Fique de olho na bola”, Whitmore recomenda perguntas do tipo: “A que velocidade a bola passou por você?”, “A que altura a bola estava quando passou pela trave?” ou “Por que a bola fez uma curva?”. Essas perguntas obrigam o jogador a prestar atenção à bola, e mais: a analisar e interpretar o que está acontecendo. Além de ser direcionado para manter os olhos na bola, ele percebe a razão e os benefícios para o seu desempenho ao fazer isso. 

Nesse contexto, um coach habilidoso colocará perguntas que ajudarão a pessoa em desenvolvimento a definir seus objetivos de curto e longo prazos, a explorar a situação atual e a definir estratégias e planos de ação com datas e resultados a ser alcançados. Qualquer semelhança com o planejamento estratégico de uma empresa não é apenas coincidência, tanto que se dá o nome a este trabalho de “Planejamento Estratégico Pessoal”. Neste ponto reside uma fantástica oportunidade de desenvolvimento, quando é possível alinhar o desejo dos colaboradores aos objetivos da organização, isto é, quando as perspectivas de desenvolvimento individual são incluídas no planejamento da organização. 

O sucesso de muitos programas de desenvolvimento de executivos, ou de lideranças, é fruto da utilização dessas técnicas, que possibilitam a cada um definir claramente seus objetivos profissionais e de carreira e, ao conhecer o que a empresa pretende realizar num futuro próximo, “encaixar-se” nessa estrutura. Há sempre o risco de alguém não se “ver” no novo modelo e perceber que somente realizará seus objetivos se sair da organização atual, mas a experiência mostra que é uma antecipação do que fatalmente aconteceria, no futuro, pela acentuação de uma divergência de objetivos que até então não havia sido detectada. 

Assim como nos níveis executivos, a utilização de perguntas para o desenvolvimento é efetiva nos demais níveis da organização, bastando apenas que seu teor seja modulado para cada atividade, sem deixar de fornecer as informações básicas ao trabalho. Sempre que o objetivo for provocar a reflexão e a aprendizagem, boas perguntas serão bem-vindas. 

Uma questão fica no ar: como elaborar essas boas perguntas? 

O objetivo das perguntas é, na maioria das situações, provocar a busca por soluções, ampliar o entendimento da situação, encontrar novas possibilidades etc. Quando alguém diz: “Não posso fazer tal coisa…”, uma boa pergunta seria: “E se você pudesse?”, ou “Se você pudesse, o que faria?”, ou ainda “Quais alternativas você acredita que temos?”. Estas e outras questões similares removem barreiras mentais e permitem que novas soluções apareçam, além de despertar a consciência das pessoas para os problemas reais e para a própria capacidade e ajudar a antever obstáculos com maior clareza. E o melhor de tudo isso é que a solução vem de dentro de cada um, e não de fora, “empurrada”, como muitos estão acostumados a recebê-las… Com isso, temos maior motivação e menor resistência para levar as ideias adiante. Afinal, ninguém resiste às suas próprias ideias.

Para concluir, vou citar outro “efeito colateral” benéfico provocado por processos de desenvolvimento desse tipo: a mudança de comportamentos! Se a organização utiliza a gestão por competências, certamente poderá medir o ganho nas atitudes positivas em relação ao trabalho e atingirá muito mais facilmente as suas metas de aquisição de competências.


(*) Augusto Gaspar é Diretor da unidade de Professional Services da MicroPower e coordenador da coluna “Desenvolvendo Talentos” desta revista. Comentários e contribuições podem ser enviados para augusto.gaspar@micropower.com.br Twitter: augustofgaspar

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