Por Augusto F. Gaspar (*)

Desde que as primeiras organizações formais de trabalho surgiram, elas foram objeto de estudos, teorias e metáforas das mais variadas. Entre as metáforas da teoria das organizações contemporânea, destaca-se a que estuda as organizações como organismos vivos. Esta teoria defende que, da mesma forma que os organismos vivos, as organizações necessitam interagir com o meio externo e estão constantemente atuando para satisfazer às suas necessidades e garantir a sua sobrevivência. 

Considerando que o meio externo muda o tempo todo, à similaridade da teoria evolucionista de Darwin, terão mais sucesso (e maiores chances de sobrevivência) as organizações que forem mais hábeis em se adaptar ao meio. Para uma organização, adaptar-se ao meio significa estar atenta a tudo o que acontece ao seu redor, globalmente e localmente, antecipando as necessidades dos seus consumidores e inovando de forma consciente, isto é, separando a inovação necessária daquela que muitas vezes acontece por puro modismo. 

Muitas empresas que se dizem inovadoras estão na verdade adotando modismos, por mais absurdo que isso possa parecer. Adotar um modismo é muito similar ao “efeito manada”, isto é, “se todos estão indo para lá, devemos ir também”. É o extremo oposto da inovação, que tem uma premissa de pioneirismo embutido. Veja o exemplo dos telefones celulares após o lançamento do iPhone. Poucos anos depois, o mercado está cheio de “clones” e equipamentos similares. 

Embora “modismo” possa parecer uma palavra muito forte para ser aplicada àquelas organizações que estão seguindo as tendências do mercado e as mudanças de necessidades de seus consumidores para garantir sua própria sobrevivência, é um bom termo para diferenciar seguidores de pioneiros. Na verdade, não há mal algum em uma organização adotar uma estratégia de “seguidora” em alguns mercados. 

Trabalha-se com menor risco e menores custos de pesquisa, desenvolvimento e marketing, e, se o trabalho for benfeito, pode-se abocanhar a fatia do mercado que acaba ficando à margem do produto inovador devido a seus altos custos de lançamento. O problema está em não se ter uma estratégia e também em adotar uma postura seguidora por ser a única chance de sobreviver. Para um organismo vivo, seria como não ter um objetivo de vida. É um sinal de que a morte está próxima.

A indústria automobilística global está repleta de exemplos que ilustram bem o que estamos falando. A crise econômica mundial mudou de forma nunca vista o “meio ambiente” dessas empresas. Testemunhamos uma série de fusões, aquisições e organizações outrora poderosas tendo que receber ajudas de governos para não morrer à míngua. As que estavam mais bem preparadas para sobreviver no novo ambiente hostil engoliram seus concorrentes e tornaram-se mais fortes e mais atuantes no mercado internacional. 

Vimos que a prática de algumas tribos primitivas de comer a carne e beber o sangue dos inimigos para ganhar sua força é verdadeira em tecnologia: empresas tradicionais e reconhecidas por sua alta tecnologia foram compradas por empresas mais jovens e inexperientes com o objetivo de absorver sua tecnologia e inovar de verdade, talvez pela primeira vez em suas vidas. A indiana Tata Motors adquiriu a Land Rover e a Jaguar de olho em sua tecnologia e capacidade de atingir mercados globais. Da mesma forma, outras marcas tradicionais inglesas, como a MG e a Rover, hoje são de propriedade da chinesa SAIC. Até o tradicional táxi inglês é hoje produzido na Ásia. 

Em particular, a indústria automobilística chinesa experimenta hoje a mesma evolução que a japonesa teve nos anos 80 e a sul-coreana teve no final dos anos 90, que é a mudança de uma postura seguidora para uma postura inovadora. Nos últimos dez anos, as montadoras sul-coreanas e chinesas evoluíram de meras “copiadoras” de sucessos americanos e europeus, para criadoras de “hits” mundiais, que saem das cabeças talentosas e multiculturais de seus designers (muitos europeus, ex-empregados das renomadas marcas do passado) e são produzidos em indústrias que seguem os melhores padrões de qualidade mundial. 

Assim, podemos constatar que os verdadeiros inovadores de hoje são aqueles que souberam aproveitar as oportunidades que as mudanças do ambiente proporcionaram, e que a adoção estratégica de uma postura seguidora pode ser uma forma de aprendizado e preparação para, no momento certo, sair do meio da manada e assumir a frente.


(*) Augusto Gaspar é Diretor da unidade de Professional Services da MicroPower e coordenador da coluna “Desenvolvendo Talentos” desta revista. Comentários e contribuições podem ser enviados para augusto.gaspar@micropower.com.br Twitter: augustofgaspar

Você também pode gostar