Por Augusto Gaspar
No dia 28 de maio de 1959, Miss Baker fez uma viagem até então inimaginável. Ela e sua companheira de viagem, Miss Able, embarcaram em um foguete Júpiter e voaram em direção ao espaço por cerca de 15 minutos, retornando com segurança à Terra. Miss Baker, como era carinhosamente chamada pelos seus colegas da NASA, era uma fêmea de macaco-esquilo que viveu até 1984, falecendo com 27 anos de idade. Sua companheira Miss Able, da raça de macacos rhesus, não teve a mesma sorte. Faleceu de complicações de uma cirurgia para a retirada de um eletrodo infectado dias após o histórico voo. 

Miss Baker e Miss Able foram os primeiros seres vivos a realizar um voo espacial em segurança (ou seja, voltaram vivas). A famosa e simpática cadelinha soviética Laika foi o primeiro ser vivo a orbitar a Terra, cerca de 8 anos depois do voo de nossas amigas. 

Deixando de lado as questões éticas e as polêmicas que cercam os experimentos com animais, não podemos negar que esses eventos foram fundamentais para desenvolver a tecnologia que possibilitou a conquista do espaço pelo ser humano, além do estopim de uma forte aceleração em todos os aspectos da ciência e da tecnologia. Milhões de dólares foram investidos na corrida espacial, com claros objetivos militares. Aliás, muitas das tecnologias que temos hoje à nossa disposição foram inicialmente desenvolvidas para fins militares. A lista não é pequena. Só para citar alguns, temos os computadores (incluindo o aumento de sua confiabilidade e miniaturização), a telefonia celular, os raios X e todos os seus sucessores, o GPS, o uso da energia atômica e por aí vai. Muitos dos equipamentos médicos utilizados hoje tiveram sua origem no desenvolvimento de armamentos, ou na tentativa de encontrar novas e melhores formas de aniquilar os inimigos. E os investimentos na indústria e pesquisa bélica continuam em alta, agora suportados pela guerra ao terrorismo, com o objetivo de manter a “paz” mundial.

Será que um dia a situação irá se inverter e teremos mais investimentos em desenvolvimento tecnológico para fins não militares? Infelizmente não há muita esperança. Somos seres bélicos, graças à seleção natural. Descendemos daqueles homens primitivos que tiveram mais sucesso em utilizar paus e pedras para acabar com as tribos que disputavam seu território e sua caça, ou simplesmente não tinham um instinto tão forte para a guerra. 

Quando éramos crianças, nos contaram que Santos Dumont se matou ao ver sua invenção usada para a guerra. Difícil de entender que alguém inteligente e muito bem relacionado nas esferas políticas do Brasil e do exterior tenha ficado “surpreendido” com este fato. Segundo algumas pesquisas sobre a sua vida, a verdadeira causa da morte continua um mistério. De forma similar, muitos cientistas, pesquisadores e inventores contribuíram para o desenvolvimento de tecnologias que foram aproveitadas pela indústria bélica, e muitos outros foram financiados por ela. 

Talvez nem todos tivessem a dimensão do que estavam fazendo, mas certamente quem teria razões para ficar profundamente deprimida seria Miss Baker, se tivesse consciência das verdadeiras razões que motivaram o seu voo histórico.


(*) Augusto Gaspar é Diretor da unidade de Professional Services da MicroPower e coordenador da coluna “Desenvolvendo Talentos” desta revista. Comentários e contribuições podem ser enviados para augusto.gaspar@micropower.com.br Twitter: augustofgaspar

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