Por Augusto Gaspar
O ano é 2015. Você está sentado na sala da sua casa assistindo a um programa de TV quando o interfone toca:
– É o técnico da geladeira – diz a voz pelo interfone.
– Deve haver algum engano….. Não chamei nenhum técnico para a minha geladeira. – Você diz.
– Eu sei, foi ela mesma quem chamou! – Retruca o Técnico.
Este diálogo não é tão impossível como pode parecer. Hoje já existem equipamentos que automaticamente informam seu estado de operação, avisam aos responsáveis em caso de falhas e outras situações pré-programadas e realmente avisam aos técnicos que está na hora da manutenção. Não falta muito para termos estas capacidades também em nossos eletrodomésticos e outros objetos que usamos no dia-a-dia.
Na verdade, estamos cada dia mais próximos de termos todos os objetos que nos cercam conectados na internet. O conceito da “Internet das Coisas”, criado pelo MIT em 1999, prevê a conectividade para todos os objetos existentes, de aviões a canetas. Segundo estudos do próprio MIT, cada um de nós está em contato com cerca de 1.000 a 5.000 objetos nesse atribulado dia-a-dia moderno. Imagine saber instantaneamente quem são, onde estão, e qual a situação de todos estes objetos e equipamentos? Os elementos chave desta enorme possibilidade são as etiquetas com identificação por radiofreqüência (RFID), chips e pequenos processadores com capacidade de comunicação sem fio.
A aplicação mais popular atualmente é a das etiquetas com identificação por radiofreqüência (RFID), utilizadas basicamente no controle de presença dos objetos onde estão coladas. Grandes armazéns e centros de distribuição podem saber em tempo real o que está no depósito e o que entra e sai. É o fim da contagem manual de estoque, o fim das conferências de entrada e saída e a garantia de uma operação muito mais produtiva nos depósitos e centros de distribuição.
Uma matéria recente da revista Exame conta o caso do Hospital Albert Einstein em São Paulo, que etiquetou uma série de equipamentos móveis para poder localizá-los rapidamente quando necessário. Segundo a matéria, alguns equipamentos do hospital – como as geladeiras para medicamentos – possuem chips que alertam os responsáveis pela internet ou por SMS se há alguma ocorrência que necessite atenção, como uma porta esquecida aberta, por exemplo, que possa prejudicar a conservação de medicamentos valiosos.
Devido ao custo, a utilização das etiquetas RFID ainda é restrita a containers, grandes caixas e produtos de alto valor, mas só nos últimos cinco anos este custo caiu cerca de dez vezes. Em breve teremos todos os produtos dos supermercados etiquetados com RFID. Bastará que o cliente passe com seu carrinho por uma antena, que a conta será emitida instantaneamente. E mais, se o cliente estiver portando seu cartão de crédito com um chip capaz de comunicar-se sem fio, a conta será paga e o recibo emitido no mesmo instante. No futuro, poderemos entrar em uma loja, colocar o que queremos no bolso e sairmos tranquilamente.
Olhando este impacto por uma perspectiva de gestão de pessoas, há a preocupação de que, assim como já houve uma redução no número de conferentes e estoquistas em muitos centros de distribuição, e que provavelmente os caixas de supermercado são os próximos a serem extintos, essas novas tecnologias vão mexer com muitas outras atividades profissionais. É mais uma revolução tecnológica que devemos encarar como novas oportunidades profissionais, e não ameaças. Mais uma vez não se trata da redução de postos de trabalho, mas de uma migração, como a que vem ocorrendo nas últimas décadas.
Muitas novas oportunidades surgem com a ampliação dos serviços necessários para manter toda essa parafernália funcionando. Só as redes de comunicação, por exemplo, devem estar presentes em todos os lugares e funcionarem sem interrupção. Estes serviços exigem administradores, técnicos e uma série de profissionais de atendimento e suporte. Só não podemos perder o bonde e não preparar as pessoas para as novas tecnologias, sob pena de vermos agravada ainda mais a lacuna entre os requisitos das oportunidades profissionais e as competências da mão de obra disponível no mercado.
As possibilidades de desenvolvimento das pessoas e dos negócios proporcionados por estas novas tecnologias são imensas. As empresas poderão saber onde e quando seus produtos são comprados, consumidos e descartados, possibilitando a uma administração mais eficiente da distribuição e de ações para reciclagem ou disposição adequada dos resíduos. Nunca mais perderemos nada, saberemos exatamente onde é que deixamos aquela caneta ou os óculos. Ao sairmos para fazer compras, poderemos consultar pelo telefone nossos armários da despensa e saber exatamente o que temos lá.
E voltando à geladeira, ela não só vai chamar o técnico quando achar que precisa, como também poderá te enviar um SMS avisando que o leite está acabando, e que aquele queijo “esquecido” lá no fundo da gaveta vencerá em 3 dias.
(*) Augusto Gaspar é Diretor da unidade de Professional Services da MicroPower e coordenador da coluna “Desenvolvendo Talentos” desta revista. Comentários e contribuições podem ser enviados para augusto.gaspar@micropower.com.br Twitter: augustofgaspar