Por Carlos Faccina
De acordo com o dicionário, criatividade é a capacidade de inventar, criar, conceber na imaginação. Qualidade de quem é ou do que é inovador, criativo, original. Originalidade é característica do que é inusitado, inédito, incomum.
Uma rápida busca na internet evidência uma série de cursos de criação, a maioria associado à atividade de propaganda e publicidade. Não é raro encontrar referências a cursos para desenvolver “lideranças criativas” como uma solução para conduzir equipes capazes de criar e inovar em um ambiente competitivo que vivemos. Criatividade é considerada uma competência essencial por muitas empresas, meio fundamental para atingir resultados superiores.
Se você não se julga criativo ou tem dificuldades para ser, muitas ferramentas e processos disponíveis no mercado de treinamentos em gestão prometem criar um novo toque do Midas em criação.
Jamais esqueço as palavra do inglês John Maynard Keynes, considerado o maior economista do século XX (a crise de 2008 foi contornada usando alguns dos seus princípios sobre as relações do Estado com a Economia). Ele dizia que “os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto”.
É “duro” ser criativo todos os dias.
Quando tenho a oportunidade de visitar uma agência de propaganda, fico preocupado com aqueles funcionários que atuam depois de uma porta com a placa: “Departamento de Criação”.
A criatividade está de alguma forma dita ao longo do caminho humano. Veja algumas citações que recolhi que poderiam estar muito bem no escopo de algum curso ou workshop de gestão:
– não creias demasiadamente no valor das suas idéias;
– cultive a concentração, tempere a vontade, torne-se uma força ao pensar;
– tente seduzir pelo conteúdo do seu silêncio;
– aprenda a ser expedito nas pequenas coisas;
– seja tão sóbrio quanto possível;
– organize a sua vida como um trabalho literário (disciplina e concentração).
Caso tenha ouvido algumas dessas referências em evento de gestão recente, não é mera coincidência, é um fato: as regras para o comportamento exigido dos executivos nada têm de original. Se eliminarmos a fonte, essas competências poderiam ter ressurgido tranquilamente numa sala de treinamento empresarial ou constar da lista de qualidades exigidas de um bom gestor.
Ocorre que essas são as recomendações que o maior poeta da língua portuguesas, Fernando Pessoa, fez por volta de 1920 na revista de Comércio e Contabilidade, como “regras da vida” para o gestor da época.
A propósito, o maior poeta da nossa língua foi um fracasso no campo dos negócios, tendo vivido seus últimos dias em quase penúria.
É certo que ser criativo é necessário, assim com “navegar é preciso, viver não é preciso”, versos que atribuídos a Pessoa, na realidade não são dele. Em “Navegar é preciso”, o poeta explica:
“Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.”
Gostaria de chamar sua atenção para evitar a “fobia” de ser criativo e para fugir de soluções que o transforme em ser criativo “na marra”.
Todos têm potencial de criação e de inovação, tudo depende do meio em que nos encontramos. Até o momento, as empresas incluem no seu processo seletivo a avaliação do potencial para criação, mas poucas realmente desenvolvem estruturas e ambientes propícios para que a criação seja uma realidade.
Não dá para ser criativo todos os dias (e nem precisa).
Ser criativo e inovador é necessário, mas solucionar a questões do dia a dia, tocar os negócios e tarefas fundamentais para a empresa são tão importantes quanto.