Por Carlos faccina
Ao visitar empresas dos mais diversos ramos de atividade por força da minha atividade de consultor, algo tem me chamado a atenção. Como não havia denominação, vou batizar de “Termômetro da Felicidade”. Trata-se de um quadro afixado na entrada do departamento com espaço para que o funcionário coloque um sinal verde, amarelo ou vermelho debaixo da sua foto para identificar seu humor. O verde indica felicidade; o amarelo, um estado de neutralidade, e o vermelho, um estado de ânimo nebuloso.
Os indicadores desse tipo que encontrei em várias empresas apontavam resultados muito similares: uma alegria de 99%. Nesses termômetros, constatei que resplandecia o verde. Naquele dias, os colaboradores estavam com tudo: felizes, produtivos e participativos.
Em 25 anos de carreira, nunca consegui perceber nos meus colaboradores diretos um estado de alma tão brilhante.
Instrumentos como esses são absolutamente inócuos. Vejamos algumas pistas para essa conclusão:
1. Quem tem coragem de expor seu estado de espírito, influenciado por questões pessoais e profissionais, para toda uma coletividade?
2. Você gostaria de ser a ovelha negra (ou vermelha) num quadro exposto na entrada de seu departamento?
3. Com qual maturidade a sua chefia avaliaria um sinal vermelho nesse quadro? E se a maioria estivesse vermelho, a situação exigiria uma intervenção externa?
Por que instrumentos como esse são adotados pelas empresas?
1. A empresa tem a sensação demonstrar um modelo de transparência no tratamento das expectativas de seus funcionários;
2. A empresa coloca a pressão pela insatisfação nas costas dos próprios funcionários, que não se sentem mais dispostos a revelar seu sentimento para não remar contra a maré, por receio, medo e tentativa de manter o emprego;
3. A empresa acaba por tirar da liderança a função de ser o termômetro de sua equipe;
4. Essas empresas “vigiam” as pessoas, ao invés de considera-las como a base da cultura de desempenho.
Qual deveria ser o caminho correto para gerenciar essa questão do clima organizacional:
1. A responsabilidade pela gestão da equipe é da sua liderança;
2. Podem haver canais alternativos para exibir insatisfação, mas eles devem ser sigilosos para proteção de quem se expõe;
3. A gestão do clima organizacional não se dá de forma igual para todos os funcionários e isso deve ser tratado individualmente e dentro das especificidades de cada um;
4. Extrair sentimentos de um funcionário em relação à sua atividade e o nível de satisfação é uma coisa extremamente difícil e delicada. Só conseguimos isso de nossas equipes após o estabelecimento de uma relação de confiança construída no contato direto entre pessoas;
5. As empresas deveriam cuidar de desenvolver um ambiente de autonomia responsável, de autogerenciamento e de clima familiar (não no sentido paternalista, mas que reforça as condições produtiva, responsável e integrada do trabalho em equipe com os colegas).
O termômetro de felicidade é um disfarce para os verdadeiros problemas que afligem o ambiente de trabalho e a gestão de pessoas.