Por Carlos Faccina
A simples observação das notícias sobre a evolução do mercado brasileiro anuncia que cerca de 40 milhões de pessoas ascenderam à classe C beneficiadas pela estabilidade e crescimento econômico. A nova classe média é uma massa impressionante de novos consumidores, base da expansão dos investimentos daqueles que apostaram no fortalecimento da demanda interna.

Não é só isso. Os integrantes da D e E também despertam atenção como potenciais consumidores nesse plano cíclico de crescimento. A mobilidade tem consequência também em toda a estrutura social e política brasileira. Não entendo que a atual turbulência global possa reverter esse quadro até porque a demanda interna deve ser parte da soução que nos colocará fora da tormenta.

Qual a relação da sua carreira com a consolidação desse novo cenário?

Compreender o que se passa no mercado sempre foi o principal requisito para fazer carreira, só que, desta vez, não é uma questão somente de mercado (poder aquisitivo, preço ou distribuição). Depende de uma análise da nova realidade social e econômica, acompanhada da compreensão de um comportamento específico que tem variações de comunidade para comunidade, de bairro para bairro, de cidade para cidade e de região para região.

As empresas demoraram um tempo para reconhecer que precisavam preparar suas estruturas internas para compreender o funcionamento das aspirações desses novos consumidores.

Novas funções foram criadas e continuam a surgir nas áreas comercial, de produção, de logística, marketing e recursos humanos para atender as especificidades dessa demanda. Tive a oportunidade de vivenciar o início dessa “revolução” corporativa quando os primeiros passos eram dados pelas empresas nessa direção.

Posso assegurar que há aqui uma nova região a ser desbravada e as empresas procuram profissionais que saibam transitar nesse terreno trazendo bons resultados.

Não é o caso de oferecer a você um guia de como conhecer esse mercado, mas ofereço algumas constatações extraídas da minha experiência prática:

1. Independente da renda, esses consumidores procuram qualidade e marca;
2. O fluxo de caixa é semanal e não mensal;
3. O sistema de distribuição tem que ser adequado às possibilidades de acesso desses consumidores – os produtos vão até eles e não o contrário;
4. O marketing fala obrigatoriamente a linguagem deles;
6. Devem existir linhas de crédito para venda e compra (são bons pagadores);
7. Novos produtos que adquirem são símbolos de status (assim como nas classes A e B);
8. O seu modelo de negócio atual não serve e deve ser adaptado (embalagens, distribuição, recursos humanos, produção, etc.).

Sua vida profissional, nos próximos anos, dependerá de alguma forma da sua capacitação diante dessa realidade. Sua visão e conhecimento de sociologia, história e psicologia podem se tornar ferramentas fundamentais de trabalho cotidiano. É por meio delas que você pode mudar suas perspectivas pessoal e profissional.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) quer incentivar empresas brasileiras a desenvolverem projetos de impacto social na chamada “base da pirâmide”. A instituição tem um orçamento de US$ 100 milhões para conceder crédito a empresas que têm entre seus clientes o público das classes C, D e E. “Não é filantropia nem responsabilidade social”, diz Luiz Ros, gerente do projeto batizado de “Oportunidades para a Maioria”. – BID financia empresas voltadas para classes C, D e E

Adote uma nova postura.

Levante-se da cadeira e saia da frente do computador. Conheça o consumidor in loco, conviva com as suas necessidades e participe da sua realidade. Entre no mundo dele. No final, será menos ar condicionado do escritório e mais “banho de realidade”, mas estou certo que vale a pena.

Conheci muitos profissionais que ocupavam posições intermediárias e que, com poucas perspectivas de sucesso, decidiram navegar nessa onda, que não se desfaz em espuma. Hoje ocupam posições de destaque em suas empresas.

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