Por Carlos Faccina
No último post Em tempos de Bienal, poesia ajuda na carreira?, destaquei a dificuldade de olhar poesias em mundo corporativo afeito a compreender mais números do que palavras em todos os seus sentidos.
Se naquela oportunidade reconhecemos obstáculos como pedras no meio do caminho (“No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade), agora percorremos e superamos essa longa jornada como o peregrino nas letras de Guilherme de Almeida. Ao vencer a descrença geral (“Aí vem o louco que leva uma árvore na mão!”) com as armas da persistência, grande valor das carreiras de sucesso, o profissional poderá ver no futuro o bordão que lhe serviu de apoio no começo da jornada como um cajado florido.
Segunda Canção do Peregrino
Vencido, exausto, quase morto,
cortei um galho do teu horto
e dele fiz o meu bordão.
Foi minha vista e foi meu tacto:
constantemente foi o pacto
que fez comigo a escuridão.
Pois nem fantasmas, nem torrentes,
nem salteadores, nem serpentes
prevaleceram no meu chão.
Somente os homens, que me viam
passar sozinho, riam, riam,
riam, não sei por que razão.
Mas, certa vez, parei um pouco,
e ouvi gritar:-“Aí vem o louco
que leva uma árvore na mão!”
E, erguendo o olhar, vi folhas, flores,
pássaros, frutos, luzes, cores…
– Tinha florido o meu bordão.
Guilherme de Almeida