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Os novos trintões

Por Augusto Gaspar

Você já percebeu que a Geração Y, tão falada e temida, está chegando aos 30? Faça as contas: faltam só dois anos para que os representantes mais velhos desta geração, nascidos em 1981, completem a terceira e entrem na quarta década de vida. 

Chamados de infiéis, insubordinados e impacientes, os “Ys” foram temidos nas últimas duas décadas. Dizia-se que, quando eles ingressassem e chegassem ao comando das empresas, tudo iria mudar: acabariam com as estruturas hierárquicas rígidas, com as políticas restritivas e com o modo como as coisas sempre foram. 

Como uma profecia autorrealizável, essas mudanças acabaram mesmo acontecendo, mas sem a participação dos “Ys”, que ainda não haviam ingressado no mercado de trabalho.
Então, a Geração Y não pode ser culpada por todas as mazelas do mundo. A maior parte delas foi criada (ou incubada) antes mesmo de os “Ys” terem saído das fraldas. 

De fato, a Geração Y nasceu no auge da reengenharia, da explosão da tecnologia da informação, da globalização e de uma aceleração e crescimento nunca vistos na história mundial. E de lá para cá, o que esta geração mais viveu foram mudanças cada vez mais rápidas em suas vidas, suas famílias, nas empresas e no mundo. Essa foi a primeira geração a ver seus pais, preparados para dedicar a vida a uma empresa, amargarem demissões por questões técnicas (antes, para ser demitido, era preciso bater no chefe). À exceção daquelas que sofreram com as guerras, nunca uma geração havia visto tantas separações e mudanças no dia a dia de suas famílias. E nunca uma geração havia sido bombardeada com tanta informação. É a geração dos bits e bytes.

Como esperar que os “Ys” não tenham uma atitude no mínimo diferente perante a vida e o trabalho depois de tudo isso? Não podemos exigir que tenham o mesmo nível de comprometimento com as empresas que as gerações anteriores tiveram. É natural que enxerguem o trabalho como algo temporário, que deve ser bom enquanto durar, e que deve durar enquanto for bom.

Claro que há muitos outros aspectos, mas somente esta questão já representa um desafio e tanto para os gestores, que precisam se reinventar a cada dia e buscar formas efetivas de promover a motivação, o engajamento e, principalmente, cuidar da formação de novos líderes.

Para lidar bem com os “Ys”, é necessário prover os estímulos para desafiá-los a responder com o que têm de melhor: a ousadia, a criatividade, a facilidade para realizar muitas tarefas simultâneas e o espírito questionador. Necessitam compreender para realizar seu trabalho, não funcionam bem se simplesmente forem mandados. Esperam uma relação transparente e aberta com a empresa, onde os laços afetivos devem ser sempre renovados e as oportunidades de desenvolvimento e progressão de carreira devem ser claras. 

A relação aparentemente conflitante com as gerações anteriores é na verdade muito gratificante, na medida em que os “Ys” são catalisadores da renovação e da inovação nas empresas, componentes essenciais para a sobrevivência, a longo prazo, de qualquer organização. Enfim, está chegando a hora de revermos nossas estratégias de gestão de pessoas, principalmente como desenvolvemos e mensuramos os resultados de nossos talentos, para melhor podermos refletir a essência desses jovens que ajudarão a construir o futuro.

(*) Augusto Gaspar é Diretor da unidade de Professional Services da MicroPower e coordenador da coluna “Desenvolvendo Talentos” desta revista. Comentários e contribuições podem ser enviados para augusto.gaspar@micropower.com.br.

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