Por Augusto Gaspar(*)
Há doze anos publiquei um artigo sobre o excesso de informação, assunto que já nos preocupava devido ao rápido crescimento dos lares conectados à internet e ao crescimento exponencial do volume de informação disponível na rede mundial.
Minha intenção neste artigo, chamado “Ajude seus filhos a lidar com o excesso de informação”, foi evidenciar a responsabilidade dos pais e educadores no apoio aos jovens, ajudando-os a discernir sobre quais informações seriam ou não relevantes.
Pouco mais de uma década depois, quase cheguei à conclusão de que quem precisa de ajuda agora somos nós. Explico: as novas gerações parecem navegar muito bem nesse imenso mar de sites, blogs e outras publicações na rede, agindo com naturalidade diante dessa verdadeira avalanche de informações. Mas será que junto a essa naturalidade há a capacidade de separar o que realmente presta? E, indo um pouco além, não seria perigosa essa facilidade de encontrar tudo o que é necessário para a formação escolar desses jovens? Será que estamos testemunhando o nascimento de uma geração de profissionais com a criatividade limitada pelo excesso de informações disponíveis? Para que pensar se podemos copiar?
Lamentavelmente, nas universidades em que leciono, esse hábito está preocupando os professores e fazendo com que os orientadores de trabalhos de conclusão de curso redobrem a sua atenção, a fim de evitar que seus orientandos caiam nessa tentação. Claro que a pesquisa pode ser feita e textos podem ser aproveitados, desde que corretamente referenciados e analisados dentro do contexto do trabalho. Mesmo assim, infelizmente alguns trabalhos foram recentemente rejeitados por terem páginas e páginas copiadas de textos publicados na internet, sem referência alguma de autoria, o que configura plágio. E a responsabilidade das escolas é muito grande nessa questão. Não pode existir no meio acadêmico a crença (bastante cômoda) de que o mercado de trabalho irá selecionar aqueles que aprenderam a pensar daqueles que se habituaram a passar de ano copiando e colando. Essa seleção sempre existiu e sempre existirá, mas em um momento em que vivemos um crescente “apagão de talentos”, o custo das empresas para fechar essas lacunas será muito alto e certamente impactará no desenvolvimento do nosso país.
Assim, revendo o que escrevi naquela época, nossa missão como pais, educadores e mentores desses jovens muda de orientá-los a filtrar informações para orientá-los a utilizar as informações obtidas para estimular o seu aprendizado e a sua criatividade. Também devemos ensiná-los que nem tudo o que se encontra na Internet está certo, e que, muitas vezes, não há certo nem errado, e que é muito bom quando se pode pensar diferente, sem fazer um Ctrl+C / Ctrl+V.
(*) Augusto Gaspar é diretor da unidade de Professional Services da MicroPower e coordenador da coluna “Desenvolvendo Talentos” desta revista. Comentários, sugestões e colaborações podem ser enviadas para augusto.gaspar@micropower.com.br.