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First Who, then What

Por Augusto Gaspar

“As pessoas certas não precisam ser gerenciadas. Se você precisa gerenciar muito de perto alguém, errou na contratação.” A frase acima é de Jim Collins, coautor do clássico livro Feitas para Durar e de mais três obras sobre gestão empresarial. 

Collins defende que as pessoas não são o patrimônio mais importante da empresa; as pessoas CERTAS o são. Nesta linha, sugere uma rigorosa disciplina na escolha de QUEM deve ingressar na empresa para depois nos preocuparmos com o QUE fazer: “First Who, Then What”. Sugerindo uma inversão generalizada no planejamento tradicional, Collins afirma que a escolha de QUEM deve vir antes da visão, antes da estratégia, antes da estrutura organizacional e antes da tática. O autor compara as empresas a ônibus, onde devem ser colocadas as pessoas certas nos lugares certos, e então será muito mais fácil definir a direção e conduzir as mudanças necessárias. 

Polêmicas ou não, as afirmações de Collins me lembraram do caso do site de relacionamentos Orkut. Nascido de um projeto pessoal do engenheiro de software do Google, Orkut Büyükkökten, o site de relacionamentos ultrapassou todas as previsões em número de usuários e acessos, principalmente em países como o Brasil e a Índia. Trabalhando nas horas vagas sem nenhum planejamento ou orientação oficial da empresa, o engenheiro Orkut criou um produto de sucesso, que ajudou o Google a incrementar ainda mais a sua base de usuários e acessos diários, responsáveis pela geração de renda para a empresa. É um exemplo da pessoa certa mostrando novos caminhos e possibilidades que podem se tornar estratégicos para a empresa.

Mas nem mesmo no Google houve essa inversão radical sugerida por Collins. O engenheiro Orkut ingressou na empresa em 2002, quando esta já estava com oito anos e despontava como inovadora em seus produtos e diferenciada na gestão de seus talentos. Obviamente, esse ambiente ajudou a atrair “pessoas certas” como Orkut. 

Acredito que podemos aplicar algumas coisas boas das lições de Collins sem promover uma revolução no modo como realizamos nosso planejamento e definimos nossas estratégias. O ponto principal é realmente buscar as pessoas certas e colocá-las nos lugares certos, o que não é uma tarefa simples, mas será mais fácil se buscarmos identificar pessoas que tenham valores pessoais alinhados com os valores da empresa. Nossos valores são, em última análise, o que define como fazemos as nossas escolhas pessoais e tomamos as decisões profissionais. Valores alinhados significam decisões acertadas, dos pontos de vista da pessoa e da empresa. Outro ponto é criar um ambiente em que ideias possam florescer e tenham espaço para ser ouvidas e incorporadas aos produtos, serviços e rotinas da empresa, se valerem a pena. As pessoas certas tenderão a ter um maior número de ideias que poderão ser aplicadas. 

Por último, mas não menos complexo: um dos maiores desafios gerenciais da atualidade é saber como delegar, como transferir poder e responsabilidade. Novamente podemos voltar à questão fundamental de Collins e à frase no alto da página. Pessoas certas tenderão a atingir o nível esperado de autonomia, não requerendo microgerenciamento nem se tornando independentes demais, refletindo em um processo de delegação mais simples e eficaz. Já disse nesta coluna que desenvolver talentos é uma arte, e posso afirmar que boa parte dessa arte é encontrar esses talentos (as pessoas certas de Collins). Muitos já estão em sua empresa, talvez falte colocá-los nos lugares certos ou dar-lhes a autonomia adequada. Pensar primeiro no QUEM e depois no QUÊ pode ser um exercício interessante para a sua empresa superar os próximos desafios. Experimente!

(*) Augusto Gaspar é Diretor da unidade de Professional Services da MicroPower e coordenador da coluna “Desenvolvendo Talentos” desta revista. 

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