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Fernando Pessoa: “Sê plural como o universo”

Por Carlos Faccina

Estava escrevendo um post para nosso blog sobre o tema “não existem duas pessoas iguais”. Este era até o título deste texto. Quando me deparei com a notícia da exposição “Fernando Pessoa: Plural Como o Universo”, que começou nesta semana no Museu da Língua Portuguesa, na capital paulista.

Se não existem duas pessoas iguais, pensei que existem muitas pessoas dentro de Pessoa. E nada mais oportuno o destaque dado pelos curadores da exposição para a abordagem da pluralidade, manifestada pelo escritor em manuscrito: “Sê plural como o universo”.

Em reunião com uma diretora de uma tradicional escola de São Paulo esta semana, ela dizia sobre o desafio da formação do sujeito no processo de educação. De que vale tanta tecnologia, tanta virtualidade, se não estamos entendo como ‘funciona’ a última versão do sujeito.

Os estudiosos do comportamento têm, ao longo das últimas décadas, dominado, com suas teses, não somente os modelos de compreensão do homem, bem como os métodos de administração de empresas. Em resumo, afirmam que as pessoas tendem a fazer aquilo pelos quais são recompensados por fazer e não aquilo pelo que são punidas. Dessa forma, a mente vai sendo moldada. Essa idéia é tão forte que é difícil derrubá-la e leva à premissa de que soluções de desenvolvimento formatadas atendem todas as demandas.

Nos últimos anos, outras idéias têm sido apresentadas não para contestar simplesmente a colocação acima, mas baseadas nos estudos mais recentes sobre o funcionamento do nosso cérebro. Sobre essa segunda, dizem:

Ao nascer, o homem não tem o cérebro em branco, vazio, tábula rasa;
Os atos humanos cruéis não necessariamente provêm da sociedade – a natureza humana pode determiná-los;
Tudo o que o homem é resulta da natureza humana (inato) e do ambiente (cultura), não necessariamente na mesma proporção;
Emoção e razão andam sempre juntas.
Essas premissas indicam que não existem dois seres humanos iguais. Por projeção, vale dizer que não existem dois clientes iguais. Isso complica a nossa vida, já que o que mais queremos é lidar com fórmulas comerciais ou de gestão (de recompensa ou punição) aplicáveis em larga escala?

Somos dotados de um software ao nascermos. Submetidos ao ambiente, ao longo da vida, passamos a ser distintos por nossas qualidades peculiares. Diferenças existem, são essenciais, visto que o desempenho funcional, incluindo o consumo e o trabalho, estão estritamente dependendo disso.

Distinguir diferenças, bem como em que somos comuns, talvez seja o maior dos desafios, mas vale a pena, visto que aí reside o segredo do sucesso, incluindo gestão de pessoas, venda e consumo.

Somos um labirinto como a exposição de Fernando Pessoa. Em alguns pontos nos encontramos, em outros somos a maioria. Às vezes nos encontramos sozinhos. Voltamos ao mesmo lugar de origem. Mas o mundo é plural, não é tábula rasa. Aprender a entender essa pluralidade é a principal viagem de nossa vida, navegando sem rumo previamente estabelecido numa expedição de autoconhecimento.

Fernando Pessoa, plural como o universo
A exposição está em cartaz na sala de exposições temporárias do Museu da Língua Portuguesa
De 24 de agosto de 2010 até 30 de janeiro de 2011
De terça a domingo, das 10 às 18h
Museu da Língua Portuguesa
Praça da Luz, s/nº, Centro – São Paulo

http://www.visitefernandopessoa.org.br/

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