Por Carlos Faccina
O sonho de consumo de muitos executivos seria ter um programa que pudesse ser implantado nos funcionários para produzir bem, de forma criativa e ininterrupta, sem manifestações de insatisfação de qualquer espécie. Ao baixar o programa, o entendimento dos comandos seria imediato e a ação começaria sem muitos questionamentos.
A duplicação de bons profissionais seria imediata, colocados em funções chave e mantendo o mesmo padrão previsível de produtividade. Que sala de aula que nada, apenas uma atualização de versão feita em rede duraria poucos segundos. Eles estariam felizes e motivados, atendendo aos clientes com um largo sorriso na boca.
Conversinhas sobre desejos, insatisfações e expectativas seriam solucionadas com um simples ‘reiniciar’. Em caso de adequação do nível de produção, a desativação do equipamento seria imediata.
Não haveria conflito, não haveria necessidade de negociação.
Essa não é definitivamente a realidade nas empresas. Na minha longa experiência como executivo, por diversas vezes ouvi: “ Faccina, não seja emocional, vamos ser racionais”. Isso ocorria sempre que um assunto demandava algo fora dos parâmetros normais de decisão, pela sua complexidade, por não fazer parte da rotina ou por apresentar alguma variável não costumeira da vida dos negócios. O software não estava pronto para aquela nova função.
Em uma negociação ou para tomar decisões de maior impacto corporativo, a exemplo de lançar ou não um determinado produto e, principalmente, quando os resultados não atendiam ao planejado, a chamada racionalidade, em que as emoções são excluídas, era sempre tomada para a solução da questão .
Nesses momentos em que os potenciais criativo e produtivo são exigidos, o saber técnico e o calculismo não bastam. O que normalmente ocorre nessas ocasiões é uma longa explicação, baseada num ciclo vicioso que procura um antídoto para as razões do insucesso como forma de desenhar o caminho futuro. Uma boa saída para conseguir escapar de uma reunião inconclusiva é criar um grupo de trabalho e transferir a decisão para outra ocasião.
Seria a solução ‘Reset’ (reiniciar), alternativa para um equipamento que fica sempre dando erro frente a uma situação em desenvolvimento ou em pane quando o programa executa uma função fora dos parâmetros. Nesses casos, apenas siga as instruções e a decisão mais confortável é aquela que tenha uma base racional.
As soluções para conflitos de gestão em mercados complexos, mutantes e permanentemente receptivos a novos competidores não podem ser programadas unicamente de forma racional.
Acredito que a emoção, longe de atrapalhar, pode ser um forte auxiliar na tomada de decisão. Publiquei em 2006, pela Editora Campus, o “Profissional Competitivo: Razão, Emoções e Sentimentos na Gestão”, hoje na sua quarta edição. De forma simples, procuro unir o indivisível. Emoção e razão são companheiras para toda a vida. O primeiro sinal que nos move é sempre emocional e aí encontramos a razão como consequência . Sem ela, a emoção, condenamos ao desaparecimento o mais valioso ativo humano, a criatividade.
Se as emoções constituem-se na evolução da nossa espécie, um elemento para garantir a vida percebidas pela manifestações de raiva, alegria, mágoa, medo, orgulho e vergonha, são também a luz do direcionamento racional.
Passado alguns anos, participei do Fórum Mundial de Negociação e ouvi emocionado que “emoção não é fraqueza”. As afirmações do professor Daniel Shapiro, professor da Harvard Medical School e diretor programa Harvard International Negotiation Initiative, embasado em sólidos príncipios científicos, vão além: ” um negociador nunca deve abandonar seu lado emocional” (leia matéria em Época Negócios “Emoção não é Fraqueza”).
Para Shapiro, as emoções são a nossa fonte de força. Se conseguirmos usá-las de modo lúcido e sensato, podemos nos tornar mais fortes. A questão do apreço pelo outro (reconhecimento do seu valor), da autonomia (o respeito à liberdade da decisão do outro) e o status (a posição hierárquica em relação à outra parte) são emoções que surgem nas questões diárias de negociação. A forma como lidamos com esses fatores emocionais podem construir ou destruir uma relação.
E na carreira? Não se trata de abandonar o raciocínio lógico, trata-se de incorporar o emocional.
A emoção não substitui o racional, mas ajuda a responder com eficácia às várias circunstâncias que promovem nosso sucesso. A emoção e o sentimento introduzem um alerta mental para as boas e más circunstâncias e, como sabemos, nossa carreira é feita disso. Emoção seria um antivírus aos riscos do lugar comum…
De que forma a emoção, como aqui tratada, o ajudou? Esse assunto faz parte do seu repertório?
Vamos falar e discutir sobre emoção e sentimento, estou certo que será de grande valia para sua carreira.