Não é de hoje que se fala sobre a importância do trabalho em equipe. É um assunto sobre o qual existe um sem números de publicações em formato de artigos, livros e dissertações. Porém, um livro interessante que me chamou a atenção foi o “O Efeito Porco-Espinho”, de autoria de Manfred F.R. Kets de Vries, DVS editora.

Neste livro, Kets de Vries propõem uma série de interessantes reflexões sobre o porquê que as equipes de trabalho são, em geral, tão disfuncionais. Algumas respostas, segundo o autor, podem estar na própria natureza humana, em nossa dificuldade de confiar inteiramente no outro, em ultrapassar os limites de nosso próprio interesse e ainda em compreender os ganhos advindos de um esforço coletivo em lugar do individual.

Para tornar compreensíveis suas questões e buscar uma resposta lógica às dificuldades inerentes ao trabalho em equipe, Kets de Vries recorreu a uma parábola de Arthur Schopenhauer que conta o dilema enfrentado pelos porcos-espinhos durante o inverno. Sempre que a temperatura abaixava eles procuravam ficar uns mais próximos dos outros para poder se aquecer melhor, mas, paradoxalmente, ao invés de encontrar conforto, eles encontravam dor causada pelos espinhos presentes no próprio corpo, o que os obrigava a se afastar. E assim, passavam praticamente todo o inverno se aproximando e se afastando um dos outros. Finalmente, um dia, perceberam que a melhor opção era manter uma distância segura entre si, nem tão perto e nem tão longe.

Freud, em um dos seus ensaios sobre a intimidade humana, estabeleceu uma analogia com o dilema do porco-espinho levantando questões retóricas sobre o quanto de intimidade o ser humano pode suportar.

De fato, quando analisamos o efeito dos relacionamentos de longa duração nos seres humanos, percebemos a existência de desgastes não completamente entendidos pelas pessoas, devido à sedimentação de sentimentos negativos não conscientes, por conta do mecanismo de repressão de alguns comportamentos existentes nas mentes humanas.

Essa teoria trazida por Kets de Vries é um excelente ponto de reflexão para líderes de equipes já constituídas ou em fase de construção. A pergunta de um milhão de dólares é “como criar equipes que funcionem bem?”.

Um dos pontos essenciais é aprofundar o conhecimento de cada participante da equipe e procurar entender o seu limite de intimidade que pode estar influenciado por valores basilares de convivência, isto significa que quanto mais distantes as pessoas estiverem dos seus valores fundamentais mais dificuldades os líderes terão para com suas equipes de trabalho.

No entanto, a complexidade da formação de equipes tende a aumentar a partir do momento em que as empresas passam a incentivar corretamente o conceito de diversidade em seus ambientes. Formar uma equipe que seja simultaneamente multicultural, multidisciplinar, multigeracional e multilocal, ou seja, multimúltipla exigirá o domínio de uma arte que ainda está em construção.

Para lidar com um mundo, cada vez, mais complexo não poderemos prescindir de uma equipe com as características mencionadas. As empresas, teimosamente, insistem em manter estruturas organizacionais anacrônicas. Elas estão adiando o inadiável.

Ainda é um exercício de imaginação mostrar como serão as organizações no futuro, mas uma coisa é praticamente certa, as estruturas organizacionais serão formadas por redes de conhecimentos, que se integrarão uma as outras, criando um conjunto complexo de engrenagens, onde a dinâmica de gestão se dará através da interação de líderes liderando líderes, que estarão liderando múltiplas equipes, algumas de assuntos muito específicos e outras multimúltiplas.

A realidade, hoje, está longe desse mundo que ainda tem pretensos líderes heroicos, que acham que conseguem solucionar qualquer problema. Ninguém mais consegue sozinho resolver as questões complexas que nos envolvem. O líder heroico já era, já se foi e não existe mais, mesmo que alguns se auto proclamem como tal.

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