Por Carlos Faccina

Nós fomos educados, orientados e pressionados para dar respostas. Dar resposta é o que o público espera de um político, é o que o chefe espera de um subordinado e, principalmente, os professores esperam dos alunos. Essa é a nossa cultura. Se não damos respostas (e boas) em uma reunião, podemos ser tachados de omissos.

Por que então fazer perguntas e não dar respostas, se todos esperam o contrário?

Na maioria das vezes, as perguntas não provocam boas respostas. São incapazes de obrigar quem responde a dizer algo de útil, prático, bom para a vida e para os negócios.

As perguntas são normalmente o ato reflexo de uma dúvida ou de uma situação conjuntural que não necessariamente evidencia sua causa. Elas ajudam a revelar fatores que podem ser relevantes. Se bem feitas, perguntas promovem reflexão, geram conhecimento, aguçam a intuição.

Como essas qualificações estão cada vez ausentes nos debates, a resposta, quando aparece, é um lugar comum.

Dois dos principais palcos onde é possível verificar esse dilema são os debates políticos e as reuniões empresariais. No debate político, ficamos frustrados pelas respostas vagas, mas esquecemos de observar a qualidade das perguntas. Quando ela tem qualidade, o candidato se complica, não responde, ou “enrola”.

Nas reuniões das empresas, o líder do grupo se esforça para obter respostas e pouco se preocupar com as perguntas que ele próprio faz. Quantas vezes você já ouviu: “Venham com respostas e não com mais perguntas!”. Ou: “Eu te contratei para me dar respostas e não para fazer perguntas”.

A cultura do comando prevalece (“manda quem pode, obedece quem tem juízo”) e a ação é exigida em prejuízo da reflexão. Saímos frustrados desses encontros, seguindo rotas desconexas.

Do post “Eleição: o movimento das peças ocultas”, destaco a reflexão:

“Devemos desconfiar da simplicidade e da certeza. É fundamental ser sensível para reconhecer que o conhecimento é provisório e falível. Somos vítimas do lugar comum, da avaliação precipitada. Fugir dessa postura permite que as particularidades humanas ocultas aflorem e se tornem de inestimável valia para os que jogam e definem, acima de tudo, os rumos de nossa própria existência.”

As perguntas certas são o motor da criatividade, já que despertam curiosidade e a busca do conhecimento. Estou falando de algo muito antigo, mas de uma modernidade surpreendente. Foi fazendo perguntas que o universo foi compreendido, desde os gregos antigos, passando pelos cientistas. O mesmo acontece no mundo dos negócios.

Para a carreira e para a vida, sugiro perguntar com sagacidade, curiosidade, inteligência, realismo, provocando (e se provocando). Não há obviedade neste campo, nem novidade. Apenas um mundo que se revelará sob um cenário de comandos e controles.

Lembro-me também de uma dica em processos de seleção, quando você é martelado por intermináveis perguntas em várias etapas. Boas perguntas, invertendo a mão única de avaliação, pode surpreender positivamente o selecionador. Muitas vezes, você pode ajudá-lo a também fazer a pergunta certa. Falaremos disso oportunamente.

Você também pode gostar