Por Augusto Gaspar
Registrar acontecimentos, lições aprendidas e pensamentos sempre foi uma preocupação do ser humano. Os primeiros registros retratando o dia a dia de caça e luta contra animais e os fenômenos da natureza datam de 40000 a.C. De lá até chegarmos ao papel que conhecemos hoje, foram utilizados cascos, peles de animais e folhas de plantas para suprir essa necessidade de registro do conhecimento.
Não foi só a invenção do papel, mas também o barateamento de sua produção (ocorrida por volta do ano 1200 estimulada pelo surgimento da imprensa), que viabilizaram o registro do conhecimento humano em um meio armazenável e transportável, e que acabou por ditar as regras de como organizamos nossos pensamentos e ideias até hoje. Embora a maioria de nós utilize meios digitais para as tarefas de trabalho, como e-mail, processadores de texto e planilhas eletrônicas, não nos desvinculamos do formato tradicional do papel. Ao escrever este artigo, por exemplo, o processador de texto simula uma folha de papel em branco, e o mesmo ocorre com a maioria dos softwares de escritório que utilizamos. Este formato nos deixa confortáveis com o que estamos produzindo e nos permite criar algo “tangível” mesmo que nunca seja impresso.
Mas não podemos deixar que essa familiaridade nos limite e atrapalhe na utilização das possibilidades dos meios eletrônicos, que vão muito além do que é possível fazer com as folhas de papel: temos a tecnologia do hipertexto, por exemplo, que permite ligar palavras de qualquer texto a outros, criando uma cadeia de relacionamentos e referências; também podemos embutir qualquer outra mídia, como sons, imagens e vídeos em textos, ampliando a capacidade de registrar e compartilhar conhecimento como nunca antes.
O papel cumpriu sua missão nos últimos séculos e foi o alicerce da sociedade do conhecimento que temos hoje, mas sua utilização em larga escala, além de ecologicamente questionável, tem custos proibitivos em um mundo onde as empresas estão muito preocupadas com as suas finanças. Recentemente, a revista americana PC Magazine anunciou que deixaria de publicar sua versão impressa nos Estados Unidos, e alguns jornais, entre eles o Seattle Post, fizeram o mesmo. Um estudo do jornal New York Times mostrou que, com 50% do que é gasto anualmente na produção e distribuição da versão impressa, seria possível presentear seus assinantes com leitores eletrônicos, o que representaria uma economia fantástica em poucos anos.
Somente com estes poucos exemplos, vemos que estamos cada vez mais próximos de uma sociedade sem papel, como previsto por vários autores, entre eles Bill Gates. Livros, jornais e revistas já podem ser lidos em aparelhos que simulam o brilho e toda a aparência das folhas de papel; podemos ter aulas, estudar e fazer provas e trabalhos sem imprimir uma única linha; podemos fazer a Gestão do Conhecimento de nossa empresa sem nenhum material impresso, e tudo isso com muita qualidade e efetividade.
Nos próximos anos, será mandatória a substituição de processos baseados em papel por versões eletrônicas, seja por uma simples questão de redução de custos ou pelo aumento de produtividade e até por complexas questões de sustentabilidade. Então, por que não começar agora? Você já contabilizou quanto material impresso é gerado e distribuído nos processos de treinamento de sua empresa? Já analisou os fluxos de trabalho e processos que consomem tempo e papel e podem ser substituídos por processos totalmente informatizados, limpos e rápidos?
Da próxima vez que tiver uma ideia e precisar “colocá-la no papel”, use uma planilha, um processador de texto e, de preferência, não imprima. O seu bolso e o planeta agradecerão.
(*) Augusto Gaspar é Diretor da unidade de Professional Services da MicroPower e coordenador da coluna “Desenvolvendo Talentos” desta revista. Comentários e contribuições podem ser enviados para augusto.gaspar@micropower.com.br Twitter: augustofgaspar