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Anotações sobre a carreira dos japoneses como nação

Por Carlos Faccina
Tento extrair lições das terríveis informações que chegam do Japão. Sob os escombros dessa terrível catástrofe, revela-se um povo com extraordinária capacidade de organização e reconstrução. É sempre nas catástrofes que se revela a força de uma nação. E esta, especialmente, foi forjada historicamente sob as mais restritas condições geográficas e de recursos naturais para emergir um dos mais importantes potencias do mundo em termos de capacidade de realização (tecnológica e criativa) e força econômica.

Desde 1968, o Japão era apenas superado pelos Estados Unidos com relação ao tamanho de seu Produto Interno Bruto (PIB). Em 2010 o valor nominal de seu PIB foi inferior ao da China. O país obteve US$ 5,47 trilhões frente aos US$ 6 trilhões anunciados por Pequim. As duas potências, contudo, têm distribuição de renda per capita muito diferentes. A do Japão é de US$ 42,4 mil frente aos US$ 4,4 mil pagos aos chineses.

O país enfrenta uma crise econômica nas últimas duas décadas, um forte tropeço com a situação global de 2008 e agora tem pela frente a necessidade de sair do golpe representado por este acidente natural. Autoridades do Ministério das Finanças do Japão e do banco central avaliam várias opções para levantar recursos para o trabalho de reconstrução e para lidar com o impacto econômico do forte terremoto que atingiu o país hoje.

Não é possível ainda registrar a amplitude de vítimas e os erros humanos que poderiam ser evitados. Nem a reflexão que as ocorrências nas usinas nucleares provocarão no modelo da matriz energética daquele país, mas, esteja certo, as lições serão bem aprendidas e resultarão em ações de nosso povo que não cansa de trabalhar.

Anoto aqui algumas impressões e registros do cotidiano que podem valer para a nossa vida: 

1.Considerando os terríveis impactos (e talvez inevitáveis) provocados pelo terremoto e tsunami, eles foram muito reduzidos pelos anos de preocupações da engenharia civil para chegar a construções que minimizam os impactos e os riscos para as pessoas. Esse mesmo compromisso que marca a filosofia de construção em uma terra que concentra o contato das principais falhas geológicas não sei viu no tsunami que varreu as cidades das serras do Rio de Janeiro em região de grande potencial de risco como ficou comprovado. Aqui, torcemos para que as coisas não aconteçam e esperamos que elas se resolvam por si só;
2.Um exército organizado, que incluiu cerca de 100 mil agentes de segurança, comandam as operações de salvamento e continuam trabalhando na busca de vítimas sob os escombros ou arrastadas mar adentro pelo tsunami de dez metros de altura. Aqui somos voluntariosos, mostramos imediatamente após as tragédias nossa solidariedade de norte a sul. Lá, eles são organizados, já têm tudo estruturado antecipadamente e as pessoas são treinadas. Mais de 550 mil habitantes foram evacuados;
3.Uma das piores tragédias da história do Japão desde a segunda Guerra Mundial deixará grandes feridas ainda não bem dimensionadas. Com falta de energia e alimento, os japoneses permanecem nas longas filas em cada uma das principais cidades atingidas. Não é resignação, mas o que podemos chamar de “Estoicismo” (doutrina filosófica fundada por Zenão de Cítio no século III a.C., indica que homem sábio obedece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo, devendo assim manter a serenidade perante as tragédias e coisas boas). Nesta manhã, estava numa mercearia e a proprietária de origem japonesa estava no caixa e falava com alguém pelo telefone. Ela disse: “Nós temos que nos orgulhar de nossa origem. Eles são muito organizados. Sem alimento e combustível, permanecem nas filas sem fazer saques”.
O que os japoneses aprendem com os brasileiros? 

Eu não tenho dúvida que a qualidade da educação pública que se oferece no Japão é um dos grandes diferenciais daquele país para a construção da nação. Um exemplo para nós brasileiros. Encontrei uma interessante reportagem do Programa Altas Horas, que visitou uma escola pública no Japão.

Mas gostaria de fazer outros apontamentos de experiências que tive com japoneses no Brasil. Acompanhei a visita de duas jovens de cerca de 20 anos a uma escola no Brasil. Elas ficavam impressionadas com a espontaneidade dos alunos em sala de aula e a participação deles ativa. Indicavam uma rigidez dos procedimentos na escola japonesa e lembravam o uso de uniformes e movimentação de alunos como em uma marcha militar.

Outra curiosidade me ofereceu uma japonesa filha de brasileira com japonês. Ela viveu até os sete anos no Japão e depois completou sua educação aqui no Brasil. Uma fisioterapeuta competente formada pela USP, tem restrições ao modelo da escola no Japão justamente por essa mesma rigidez de comportamento.

Não quero estabelecer conceitos definitivos, mas procuro aprender com a situação. O ambiente e a história formaram a nação japonesa, assim como aqui no Brasil somos resultado de um processo. Lá, como aqui, todos são capazes de aprender com a própria experiência e usar as habilidades inatas em favor do bem comum, da realização pessoal e do desenvolvimento de nossas nações e de nossas famílias.

O desafio está em justamente desenvolver um olhar crítico e não resignado sobre essa situação para transformá-lo em ação positiva.

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