Por: Vicente Picarelli
A análise do significado de se levar uma vida virtuosa, justa e feliz, e como devemos nos comportar para alcançá-la constituem a base do ramo da filosofia conhecida como ética ou filosofia moral.
É sempre oportuno abordar um assunto tão sensível como a ética, ainda mais nos tempos em que estamos vivendo, onde o caos se posicionou de forma a potencializar as mazelas humanas.
Para se entender melhor a ética e a moral temos que associá-las a outros temas como valor e liberdade de escolha, isto porque a base da sua dinâmica está no relacionamento entre as pessoas, que no seu convívio diário fazem suas escolhas considerando os valores pessoais e comuns da sociedade.
Em recente matéria publicada por esta revista na edição de abril último, a colunista mostrou, com base em pesquisa realizada por uma grande consultoria, que a corrupção no Brasil é ainda vista como uma possibilidade a ser praticada pelas empresas da grande maioria dos executivos entrevistados.
Isso mostra que grande parte das pessoas, de certa forma, não estão tão preocupadas com atos de corrupção em si. Muitos entendem que é um dado cultural presente em nosso país e, portanto, enxergam sua existência como algo natural no contexto diário.
Sem dúvida conviver com a corrupção dentro do ambiente empresarial é um problema de ética profissional. Contudo, também é um problema de ética pessoal e, portanto social.
Acredito que muitas pessoas vivem um conflito pessoal ao lidar com este assunto. A primeira reação é achar que não é seu o problema, portanto acabam vivendo com está ideia por um bom tempo. Depois começam a ver o problema por outro ângulo, e com uma expansão de consciência, passam a enxergar que muito dos recursos subtraídos da sociedade poderiam estar sendo alocados para criar bem estar para toda a população, principalmente nos quesitos básicos como emprego, moradia, saúde e educação.
Este processo de conscientização é que está impulsionando as pessoas a não mais conviver com a corrupção e buscar canais competentes para denunciá-la. Apesar de não sermos muitos os que hoje denunciam, há um enorme contingente de pessoas revendo e maturando os seus valores.
Vejo que boa parte de nossa sociedade, principalmente os jovens, está vendo com bons olhos a sua participação na formação de um novo contexto social, onde exista maior atuação da sociedade no cuidado da questão pública, além de civilidade e responsabilidade. E com esta nova visão, ainda que desestruturada no seu princípio, as portas para a corrupção estarão cerradas.
Muitas empresas que já estabeleceram processos de governança corporativa têm em seus documentos o compromisso de realizar os seus negócios de forma ética e legal, respeitando os valores da sociedade e contribuindo para o seu desenvolvimento.
Nestas organizações é comum encontrar canais competentes para garantir que a ética seja vivenciada por todos na organização. Esses canais ficam sob a responsabilidade de um alto executivo e o assunto é tratado com confidencialidade. Nesta área não só a corrupção é denunciada, mas também problemas como assédio sexual, assédio moral, discriminação racial e outros.
Entendo que as empresas são as que mais influenciam o comportamento dos indivíduos. Nas organizações, onde o bom ambiente prepondera, o profissional terá chances de expressar o que ele tem de melhor.
Da mesma forma, um mau ambiente produz o efeito reverso. Os profissionais inseridos neste contexto encontram-se, em sua maioria, desmotivados e ansiosos e este padrão de comportamento reflete no desempenho da empresa em que atua.
As organizações têm a obrigação de resgatar os valores que definem e constroem uma boa sociedade, bem como o dever de disseminá-los entre seus colaboradores, e atuar para eliminar qualquer possível prática que contrarie a nova cultura social.