Por Augusto Gaspar
Em 2006, Chris Anderson, editor-chefe da revista Wired, publicou o livro A Cauda Longa, devido ao grande sucesso que o tema havia feito em seu blog nos meses anteriores, em decorrência de um artigo que escreveu sobre o tema. O livro, cujo título original é The Long Tail, chegou a ocupar a posição de décimo mais vendido entre os livros de não ficção da lista do New York Times apenas duas semanas após seu lançamento.
O termo “cauda longa” é utilizado em estatística para identificar situações nas distribuições de Pareto em que os valores são decrescentes quase infinitamente, formando a chamada “cauda”. Anderson começou a pesquisar o tema e desenvolveu a teoria a partir de uma observação que ele inicialmente batizou de “Regra dos 98%”. Ao pesquisar aspectos característicos das empresas da nova economia, especialmente Google, Rhapsody, iTunes, Amazon, Netflix e eBay, Anderson observou que já não havia grandes diferenças no custo de comercialização e distribuição de produtos de sucesso (que vendem muito) em comparação aos produtos dirigidos a nichos específicos (que vendem pouco).
Na economia tradicional, o custo de armazenagem e distribuição de produtos que vendem pouco por muitas vezes inviabiliza sua comercialização. Na nova economia, em que muitos artigos são transformados em bits (músicas, filmes, etc.), com custos de distribuição e armazenagem próximos de zero, e outros, embora físicos, têm sua cadeia de comercialização extremamente simplificada e agilizada pelos meios digitais, esses conceitos precisam ser revistos. As empresas de comércio eletrônico já comprovaram que vale a pena atender a estes mercados de nicho, e que muitas vezes produtos de baixa vendagem excedem os “best-sellers” em lucratividade.
Pois bem, antes que alguém me lembre de que o tema desta coluna não é economia e muito menos estatística, gostaria de dizer que estas regras podem se aplicar muito bem aos serviços de RH. Um exemplo muito simples é o treinamento. No passado tínhamos necessariamente que movimentar pessoas, materiais e ocupar instalações com alto custo; hoje investimos uma vez e podemos replicar o treinamento digitalmente e indefinidamente até diluir seu custo a zero.
Hoje podemos treinar quem seria impossível pelos meios tradicionais, por questões de logística e de custos elevados. Este exemplo mostra que o RH também pode ter sua cauda longa… Não só no desenvolvimento, mas também nos serviços que temos de entregar aos colaboradores de nossas organizações. Quantos desses serviços, sejam R&S, avaliações, informações administrativas e outros, não podem ter seu custo reduzido e sua abrangência ampliada se utilizarmos bons sistemas de apoio?
Pense em alguma coisa que você faz em sua organização de forma limitada e incompleta por questões de custo… Pense em algum serviço que poderia ser prestado, mas não é porque não há meios de atingir todos… Pense em alguma coisa que você sabe que é importante, mas não tem meios de justificar o custo para a organização. Então, aumente o escopo, atinja virtualmente todos, faça com que mais gente use, diminuindo o custo unitário. Enfim, aplique a teoria da “cauda longa” e veja se não achou a solução!
(*) Augusto Gaspar é Diretor da unidade de Professional Services da MicroPower e coordenador da coluna “Desenvolvendo Talentos” da revista eletrônica. Comentários e contribuições podem ser enviados para augusto.gaspar@micropower.com.br.