Ao longo do tempo a empatia tem sido uma força aglutinadora da qual muitos de nós, apesar de vivencia-la em alguma circunstância, não temos consciência da sua real capacidade.

Sua etimologia é originária do grego empátheia cujo significado é a forma de identificação intelectual ou afetiva de um sujeito com uma pessoa, uma ideia ou uma coisa, segundo o Dicionário Priberam da língua Portuguesa.

É curioso notar que quando estamos nos relacionando com pessoas tomamos todos os cuidados para que elas vejam em nós alguém muito interessante e positivo. Nós não permitimos que as nossas fraquezas e defeitos sejam percebidos de forma alguma. Ou seja, a maioria de nossos relacionamentos não é compatível com a nossa realidade.

O que ganhamos com isso? Nada de concreto, apenas uma falsa imagem de nós mesmos. Mas porque agimos desta maneira? Porque durante o nosso processo de educação fomos sutilmente incentivados a não confiar nas pessoas e este comportamento seguiu sendo reforçado de tal forma que se consolidou como uma premissa em nossos cérebros: “Não confie em ninguém até ter a absoluta certeza de saber com quem você está lidando”.

Este paradigma continua a definir nosso comportamento em relação às outras pessoas, mas temos que ter a coragem de muda-lo porque o mundo hoje coloca as pessoas em contato umas com as outras de forma surpreendente.

Fazendo uma simples analogia, o nosso cérebro criou uma espécie de “sala de julgamentos” onde todas as pessoas com as quais nos relacionamos obrigatoriamente passam e recebem suas sentenças: “não confiável”, “confiável até certo ponto”, “fazer novos testes antes de confiar”, “confiável”, etc.

Hoje vivemos uma era de incertezas, de complexidades, de profundas mudanças. Nada é estável e nada é exatamente como percebemos. As possibilidades são praticamente infinitas e a verdade é relativa. Será muito difícil manter o velho paradigma como maestro de nossos relacionamentos.

Então a pergunta: como podemos viver e nos relacionar neste ambiente se somos compelidos a não confiar? As respostas podem ser várias, mas uma delas inspira uma reflexão. Ao invés de mantermos em nosso cérebro uma “sala de julgamentos” porque não trabalhamos o nosso cérebro para que esta sala seja substituída por uma “sala de convivência” onde as pessoas com as quais nos relacionamos são recebidas sem qualquer tipo de rótulo e tem o tempo necessário para fazer a sua apresentação.

Aqui se trata de criar um espaço para o outro, para que através de um diálogo inteligente e sincero o mútuo conhecimento possa ser realizado.

Não é uma tarefa fácil fazer esta mudança interior. No fundo nós somos muito egoístas e devemos isso ao nosso cérebro reptiliano que desde épocas remotíssimas nos impele a defender com todas as forças o eu.

Criar a empatia exigirá uma nova abordagem de utilização de nossas capacidades cerebrais. Devemos resistir aos impulsos primordiais e trabalhar com mais intensidade o neocórtex, uma zona de nosso cérebro que se desenvolveu nos últimos milhares de anos. Nesta zona o cérebro estabelece objetivos, faz planos, comanda ações e forma emoções, além de fixar a atenção, monitorar planos e ajudar a integrar pensamento e sentimento.

A empatia é a base para qualquer relacionamento significativo. Ela é respeitosa e tranquilizadora e geralmente evoca boa vontade como retribuição. A arte da empatia é uma jornada de transformação pessoal. É ver o mundo como oportunidade de evoluir e ser feliz. Mas é fundamental que tenhamos em mente que não somos únicos e isolados, ao contrário somos uma complexa teia de interações e compreender e ser compreendido pelo outro pode nos levar a uma expansão de consciência sem limites e a partir daí experimentarmos uma sensação de liberdade e leveza de coração.

O uso deliberado de nossa capacidade de criar empatia exercita e fortalece os nossos circuitos neurais responsáveis por esta virtude. E de uma forma análoga teremos a nossa “sala de convivência” repleta de bondade, boa vontade, respeito, carinho e consideração.

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