Por Augusto Gaspar
Até o início dos anos 1990, falar em “inovação” era algo restrito às poucas empresas que se davam ao luxo de investir pesado em pesquisa e desenvolvimento para estar na liderança do mercado. Essas empresas mantinham equipes de elite, pagas a peso de ouro, para pensar criativamente e desenvolver produtos inovadores para garantir sua permanência no rol das melhores.
Hoje a inovação perdeu seu status de produto de luxo e caiu na cesta básica de todas as empresas, e de forma democrática: das micro às grandes multinacionais, por mais simples que seja o produto ou serviço, as mudanças rápidas que atingem os mercados exigem uma dose diária de criatividade e inovação, seja no produto final, seja nos projetos ou na área administrativa.
Para desenvolver – ou pelo menos manter o nível de competitividade das empresas –, cada colaborador passa a ser responsável por uma dose de criatividade e inovação, e os líderes são cada vez mais cobrados para obter esse comportamento de suas equipes.
Tanto é que “Criatividade” e “Inovação” são duas das palavras mais utilizadas em seminários e palestras sobre liderança e competitividade. Uma rápida pesquisa no Google revela mais de 6 milhões de resultados para “Criatividade”, outros quase 7 milhões de resultados para “Inovação” e quase 1 milhão e meio de resultados para as duas palavras juntas. Ao adicionarmos a palavra “Educação”, o número de resultados cai para cerca de 800 mil.
Embora não permitam chegar a nenhuma conclusão, esses números ilustram a constatação de que poucas vezes a educação está associada à obtenção da criatividade, fundamental para a inovação. Criatividade nasce da observação do que nos rodeia, da associação de fatos e ideias aparentemente desconexos, de perguntas sem respostas, da vontade de ver o que ninguém viu e da capacidade de transformar isso tudo em alguma coisa útil.
O processo criativo não é linear e nem sempre passa pelas mesmas fases, mas depende fundamentalmente de pensamentos complexos. E aí entra a questão da educação, o verdadeiro motor da inovação: se queremos ter colaboradores criativos, estes necessitam saber pensar.
As empresas em geral têm uma preocupação muito grande com treinamentos voltados ao trabalho, o que é perfeitamente coerente, mas se esquecem de dar aos colaboradores condições de desenvolver suas habilidades intelectuais de forma mais genérica e abrangente. Além de desenvolver nos colaboradores a capacidade de elaborar novas ideias, é fundamental para o processo criativo construir um ambiente que incentive o compartilhamento de ideias e seja tolerante a erros. Com os devidos ajustes, isso é possível e saudável hoje em qualquer atividade profissional.
Nos últimos anos, muitas empresas se adaptaram às novas regras de competição em seus mercados, tornando-se mais inovadoras. Talvez não ainda no grau desejado, mas encontram o caminho e já sabem a receita. Mas outras só agora estão se dando conta: se este for o seu caso, isto é, se for essencial para a sobrevivência do seu negócio mover sua empresa de uma situação estável para uma situação de inovação constante, saiba que não é uma tarefa fácil, mas perfeitamente possível dentro de um processo de transformação organizacional bem estruturado e dividido em passos, que iniciam com a definição das competências fundamentais para a inovação, seguidos do estabelecimento de ações educacionais e de ordem prática, aplicadas ao dia a dia dos colaboradores. Mãos à obra porque valerá a pena!
(*) Augusto Gaspar é Diretor da unidade de Professional Services da MicroPower e coordenador da coluna “Desenvolvendo Talentos” da revista eletrônica semanal.