Por Carlos Faccina
De forma sistemática lemos, ouvimos e somos, de alguma forma, informados sobre a falta de profissionais qualificados no mercado de trabalho brasileiro.
Mito ou realidade?
Nos afastamos do mito quando observamos que:
1. Nunca se estudou tanto como nesta última década no Brasil – de forma quantitativa e qualitativa;
2. A disponibilidade de cursos técnicos, de graduação e pós-graduação teve um incremento de mais de 70% nos últimos 10 anos;
3. Temos muitas escolas que não primam pela qualidade, mas a outra face é verdadeira: outras tantas universidades e centros de pós-graduação oferecem cursos com a mesma qualidade das melhores escolas do exterior;
4. Os convênios com as escolas de excelência em Administração aumentaram, também, de forma significativa. É possível estudar numa escola brasileira e ter suporte de importantes instituições dos Estados Unidos e Europa;
5. Faltam engenheiros no Brasil, é fato. De outro lado, as escolas de Engenharia fecham seus cursos por falta de demanda.
A realidade fica mais clara quando evidenciamos que:
1. O que existe, de fato, é um mal que decorre da total falta de integração entre o nosso sistema escolar e o que as empresas demandam, quer públicas ou privadas;
2. Nas empresas públicas, o viés ideológico da contratação, com exceção dos concursados, determina o predomínio da presença de pessoas ligadas de alguma forma com os partidos no poder. Nesse caso, formação e competência contam pouco. Aproximadamente 50.000 funções federais, estaduais e municipais são ocupadas por esses critérios. Isso se dá mesmo nas funções consideradas técnicas;
3. O setor privado, por sua vez, perdeu a “paciência pedagógica” do treinamento e do desenvolvimento. Nunca se falou tanto em desenvolver pessoas nas empresas e nunca isso foi tão negligenciado;
4. A necessidade de ter profissionais “prontos” faz com que os que necessitem de alguma formação ou adaptação sejam considerados como custo e não investimento;
5. As empresas querem, cada vez mais, “gente pronta” que já sai fazendo gols dentro do palco da competitividade;
6. As empresas privadas sempre foram celeiros de desenvolvimento e formação de profissionais, mas com os resultados batendo a porta em números cada vez mais exigentes, não teriam mais “tempo” a perder com educação.
Vamos concentrar nossas atenções em estratégias de entrosamento dos sistemas de formação com as demandas do mercado. Temos profissionais e talentos à disposição, o que realmente falta é a integração dos objetivos e dos processos de educação que possibilite o rearranjo de como formamos e o que devemos formar.
Quem tiver coragem de ir a campo trabalhar nesse planejamento vai se beneficiar no médio prazo.