Por Carlos Faccina
Nenhum grande movimento social vem do nada. Aparece como um cometa e desaparece sem deixar ao menos algo da sua calda brilhante. Suas sementes estavam por aí, espalhadas, e germinaram em terreno fértil após a fagulha das mazelas da mobilidade urbana.
A panela de pressão era alimentada por um conjunto de fatores, hoje óbvios para quem acompanha e se manifesta nessa onda que toma as ruas das principais cidades do país. A indignação explodiu em ressentimento, uma das formas mais duras de expressar os sentimentos. Movimentos de massa, que contam com a participação de milhares de pessoas, não são passíveis de controle ou direcionamento.
O coletivo é o líder.
Há muito tempo escrevo, penso e contraponho minha energia e experiência contra essa “mania de líder”. É falsa ideia de que, para tudo, precisamos de líder. A busca incessante por contratar líderes, por formar e desenvolvê-los, superou, no caso empresarial, o mais importante: formar ideais que mobilizam grupos – uma idéia líder. Muitos movimentos nascem espontâneos e, de repente, ganham espaço como a manifestação de uma coletividade. Seguem para o espaço público com a aprovação da maioria. Dão voz ao sentimento comum, à desconfiança até então calada. Não têm um dono (embora muitos tentem rapidamente se apropriar deles), mas muitos.
Nas empresas, pode acontecer o mesmo.
A revolta e indignação diante dos disparates diários e abusos são combustíveis a espera de uma faísca. A mesma faísca pode incandescer uma boa ideia, movida por um sentimento coletivo por desenvolvimento e sucesso. E aí você verá todos cantando um hino, mesmo que a música institucional cesse ao final do protocolo corporativo.
Um boa ideia e a indignação são coisas profundamente humanas, projetam-se além das nossas pessoalidades e nos lideram com eficiência e objetividade. Uma boa ideia não precisa de um líder para negociá-la. Ela é inegociável quando liderada pela força da indignação.
Na empresa, um boa ideia é objetivo integrador, é o mote líder em torno do qual juntam-se os talentosos, os competentes e os que empreendem.
Numa sociedade democrática, a imagem do líder é a renovação constante, não a concentração do poder, causa básica da corrupção. Numa empresa, a democracia está no potencial de criatividade que redunda em ideias factíveis. Nesse momento, no Brasil, a força-líder da indignação coloca em prática o que pensa e espera a sociedade brasileira dos seus representantes. Que a inspiração contagie as empresas em torno de ideais, matéria-prima que forja a ação coletivas.