Por Carlos Faccina
Recentemente, observamos alunos que em fase vestibular adotaram a estratégia de “ludibriar” seus avaliadores incluindo na redação do ENEM receitas e hinos de clube de futebol. Mais do que expor as fragilidades do processo de avaliação que deram notas para essas propostas de textos em vez de excluí-las sumariamente, a notícias revela o preocupante comportamento de jovens que deliberadamente adotam estratégias de farsa, ou mentirosas, para se “dar bem” em testes de seleção.
Fazem isso, como ficou comprovado na reportagem, porque a ação deu resultado. E nesse mundo em que os fins justificam os meios, a mentira passa a ocupar lugar relevante (e preocupante) na estratégia de ação das pessoas.
Em evento recente com alunos do Ensino Médio, um estudante me perguntou se “saber mentir” era uma competência desejada nos bons executivos. Na lógica dele, os profissionais que sabem mentir são mais bem-sucedidos.
Essa cultura do “mais esperto” está colocada em nosso modelo de vida, infelizmente. Ao invés de rejeitarmos a mentira, consideramos sua prática como uma opção de sucesso. Quem a pratica, muitas vezes, é colocado num patamar de referência.
Mentimos na escola, com os pais e professores. Quem nos governa mente. Por que não mentir na hora do vestibular? E se deu certo, por que não “turbinar” um currículo? E num relatório de desempenho, numa transação comercial…
No post Por que as empresas mentem?, tratei da questão de forma corporativa. Mentimos, apesar de qualquer mandamento que nos diga o contrário. Desconsideramos os modelos de transparência, os manuais de conduta, os relatórios de resultados e as condições de governança corporativa.
A confiança nos números substituiu a confiança nas pessoas e acabou se tornando o principal orientador das decisões tomadas. Muitas vezes, os bons desempenhos comerciais fazem uma cortina de fumaça sobre os meios para atingi-los. No DNA corporativo, ao final das contas, as políticas, princípios, valores, responsabilidade social e modelos de gestão estão submetidos perigosamente aos números.
Nossos limites morais deveriam encontrar anteparos em muros intransponíveis. Mesmo vendo uma oportunidade de superar obstáculos, nossas crenças deveriam coibir ações que enganam deliberadamente outras pessoas. Não é assim na prática.
O que faz lembrar do post A ética depende do quê?, que pode nos ajudar a responder a questão colocada no título deste artigo. Nele, destaco que os valores pessoais determinam as escolhas que faremos em nossas carreiras. A partir daquilo que aprendemos, acreditamos e valorizamos, tomamos as decisões que valerão para toda a vida e determinarão nossos sucessos e fracassos.
Pense nisso antes de tomar uma decisão que pode enganar outra pessoa.