No
início de 1998 tive uma experiência que
gostaria de compartilhar com vocês. Tive a interessante
tarefa de estudar uma peculiaridade. Antes, porém
gostaria de dar-lhes algumas informações
sobre a alfabetização na Índia.
A Índia tem cerca de 28 estados e uma população
de pouco mais de um bilhão de pessoas, o que representa cerca
de 16% do total da população mundial. Com todo o desenvolvimento
que tem ocorrido na área da educação, ainda temos
46% de pessoas com idade acima de 15 anos que não são alfabetizadas.
O que significa que temos uma grande tarefa à frente. Penso ser
possível empregar a tecnologia para aumentar o produto final do
processo de aprendizagem.
No sudeste da Índia o estado de Carola é um enigma, porque
os níveis de alfabetização chegam perto de 100%,
ao passo que nos outros estados ficam em torno de 50%.
Leeds um estado comunista que tem uma população muito densa
com renda per capita muito baixa, exibe indicadores surpreendentes que
mostram mais de 89% de níveis de alfabetização.
Porém, este estado tem um problema interessante: quando verificamos
os índices de aprovação no ensino médio,
descobrimos um fenômeno muito peculiar. Parte dos alunos estavam
tendo 70% de aprovação nos exames, enquanto que na zona
rural chegava apenas a 40%. O que significa que há um problema
na zona rural. Como temos de lidar com isso? Então me pediram
para examinar este problema e percorri todo o estado e fizemos algumas
descobertas. Tais índices não eram causados por falta de
escolas, a densidade de instituições de ensino naquele
estado era alta, nenhuma criança precisava se locomover por mais
de 1 ou 2 km para ir à escola. Na verdade se tratava de ensino
de baixa qualidade.
Os bons professores não ficavam nas vilas, eles simplesmente se
mudavam para as cidades onde estão os maiores índices de
aprovação. Os melhores professores não ficavam no
estado e nem mesmo no próprio país, os profissionais mais
competentes estão fora da Índia.
É interessante observar que a Índia tem sido uma grande fornecedora
de professores para todo o mundo. Professores para trabalharem em escolas se
tornarão um bem de comodity rara no futuro. Teremos cada vez mais problemas
em apresentar currículos nas escolas. Estive na Holanda alguns meses atrás,
quando me deparei com uma notícia no jornal informando de que haverá redução
de carga horária nas escolas simplesmente porque não têm
professores suficientes. O mesmo problema existe na Austrália, Inglaterra
e nos EUA. Estão tentando importar professores de outras partes do mundo.
No entanto existem algumas questões a serem consideradas: diferenças
culturais e de currículo. Precisamos de fato encontrar uma forma para
apresentarmos currículos sem termos de aumentar o número de professores
ou então temos de melhorar a eficiência dos professores atuais. É onde
a tecnologia se encaixa.
Falamos a respeito de aumento de instituições de ensino. É quase
impossível pensar em uma situação onde aumentamos
a infra-estrutura simplesmente para lidarmos com mais e mais alunos.
Estamos falando de uma situação onde escolas do ensino
fundamental aumentaram de 200 mil para 600 mil em 40 anos. Ao passo que
o número de escolas do ensino médio e faculdades quase
não cresceu nos últimos 40 anos. Temos realmente um problema
quando tentamos aumentar as atividades e os materiais das escolas existentes.
Um outro aspecto do problema é que temos de lidar com outras situações
em países em desenvolvimento como o nosso, onde temos muitas crianças
que não freqüentam ou desistem da escola. Em 1991 a população
escolar era de 170 milhões, mas apenas 97.4 milhões de
fato freqüentavam a escola e 41.4 milhões abandonaram os
estudos. Isso no ensino fundamental. Se observarmos o ensino médio,
verificaremos que é diferente. O quadro mudou em 1978. O número
de crianças freqüentando a escola foi de 187 milhões,
o que é um número bem acima da população
do Brasil. Ainda temos uma alta taxa de abandono que chega a 43 milhões.
Como lidamos com isso? Talvez pudéssemos tentar a televisão
como mídia, por ser de baixo custo e por existirem muitos aparelhos
disponíveis por todo o país. Não seria difícil
empregá-la como mídia. Mais ainda assim temos problemas:
poderíamos alcançar uma classe com um canal. Em um espectro
de 12 classes precisaríamos de 12 aparelhos e 12 canais. As crianças
aprenderiam somente que nós nos propuséssemos a ensinar.
Em meados de 1998 percebemos que talvez a internet fosse a melhor forma
de lidar com isso. O emprego de vídeo ficaria difícil pela
internet, então pensamos em usar apresentações baseadas
em animações. Quando estávamos fazendo os estudos,
tivemos inspirações para slides, onde e-learning se torna útil
para aumentar a proficiência do trabalho. Também existe
a vantagem de termos níveis mais altos de atenção
quando utilizamos o e-learning. Cerca de 75% do conteúdo apresentado
através de e-learning é de fato retido, e 90% se for significativo
para quem estiver aprendendo.O custo cai para 1/3 em comparação às
estruturas de ensino tradicional.
Então o que fazemos em relação a tudo isso?
Estudamos o objeto com o qual a criança ou o professor mais se
identificaria e descobrimos que é com um livro de texto, isso
em qualquer lugar do mundo. Se a criança vir seu livro de texto
em um lugar que lhe parecer incomum, automaticamente se sentirá atraída.
E o professor que vê seu livro de texto com o qual trabalha, automaticamente
se sente atraído também. Então pegamos este livro
de texto e pensamos: Por quê não o colocamos com animação
on-line? Quando assim o fizemos, acrescentamos uma qualidade consideravelmente
superior à apresentação do currículo, o professor
pode usar aquelas animações onde no texto havia alguma
dificuldade de compreensão, o que facilitou o aprendizado da criança.
Pergunta feita por participante:
1) O Brasil tem algumas semelhanças com
a Índia no tocante à mudança
de cultura para introdução de e-Learning.
Como ocorreu a mudança de comportamento na Índia
para que as pessoas pudessem aceitar a aprendizagem
através de meios eletrônicos, particularmente
internet ou intranet?
O uso de e-Learning não é generalizado na Índia.
Existem alguns esforços concentrados para espalhar o e-Learning
por todo o país. Tanto professores quanto alunos precisam adotar
esta tecnologia antes que ela se torne bem sucedida. Existem semelhanças
entre os dois países quanto ao perfil da população
e no sentido de serem ambas nações em desenvolvimento,
porém é necessário ressaltar que existem enormes
complexidades na Índia não encontradas no Brasil, como:
60 línguas oficiais, 150 milhões de estudantes, 10 religiões
fortes por todo o país.
Algo favorável quanto à introdução do e-Learning
em nosso país é que quase todas as pessoas sabem alguma
coisa sobre computadores, com exceção dos professores.
Temos de treinar os professores para o uso da tecnologia. Eles não
falam a respeito de tecnologia em sala, simplesmente porque os alunos
sabem mais. Acabam recuando e nós temos de puxá-los e fazê-los
entender que precisam usar a tecnologia, entretanto quando se deparam
com a necessidade, tornam-se usuários constantes, pois passam
a ter motivação para isso.
Nas cidades o uso de computadores está muito presente, porém
não se pode afirmar o mesmo sobre os vilarejos.
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